segunda-feira, março 27, 2006

Só algumas dicas rápidas, tipo resumão da história

A sua viagem é Foz/Salta/Atacama/Uyuni/Corumá. Vou deixar uns toques rápidos:
1- Argentina: passagem tranqüila, é possivel que você seja parado por um guardinha pedindo uma contribuição, não pague mais que 20pesos, ou se você estiver com tempo e com tudo certo, deixe ele revistar que nao pega nada, a estrada é relativamente boa, um buraquinho ou outro, Salta é bem simpatica, mas só. O caminho até Jujuy é legal e eu sugiro parar em Purmamarca (duca!!) atravesse pelo Paso Jama ate San Pedro de Atacama. 2 - Chile: as estradas são excelentes, e os guardas honestos. O trecho até Machupichu não fiz dessa vez ainda, mas vou fazer. 3 - Bolívia: Entrar na bolivia por Laguna Verde(perto de San Pedro de Atacama) é uma boa pedida para chegar ao Salar de Uyuni (fenomenal!!). Pare em Laguna Colorada e depois San Juan na margem do salar. Se o salar estiver seco sugiro atravessá-lo com seu carro mesmo, é mais legal e nao estraga nada, se estiver cheio de água tambem vale, mas é bom tomar alguns cuidados. Evite o salar da metade de janeiro até abril porque tem muita água, na verdade evite toda a Boliívia nesta época. No dia que atravessei a fronteira para o Brasil decretaram estado de calamidade em boa parte do país. De Uyuni para Potosi, é tranqüilo mas não vá com chuva. Potosi, Cochabamba até Santa Cruz é tranqüilo quase tudo asfaltado. Santa Cruz a Corumba é mais enlameado, mas dá pra passar, é bom ter snorkel no carro e pneus todo terreno para este trecho, enquanto a estrada que está em construção não é concluída.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Fotos do Rodrigo




Essas fotos são do Rodrigo Richter, momentos de lama da nossa viagem antes de chegar ao salar. hehe
Como podem ver a estrada é bem demarcada com água, muita água. E a Nave passou por isso muito bem.


quinta-feira, janeiro 26, 2006

Corumba Floripa em dois dias!


Saímos de Corumba as sete da manhã, prontos para encarar mais 1000 e poucos km de estrada. Dessa vez era um tiro só até Floripa. A estrada é tranquila sem muito buracos, ao menos não no padrão boliviano de estrada. Decidimos parar em Maringá para passar a noite. No outro dia pé na estrada novamente e paramos para almoçar antes de Curitiba.

Aos poucos tento me lembrar de tudo que fizemos desde que saimos de Floripa, parece que estávamos viajando a meses, conhecemos muitos lugares diferentes. No norte da Argentina, Purmamarca foi marcante, o primeiro pueblo da viagem, o primeiro contato com a cultura andina. San Pedro de Atacama é louco, gente do mundo inteiro, uma paisagem que nunca havíamos visto, o deserto absoluto e as formações rochosas, os geisers são fantásticos. Na Bolívia.... tudo, aventura, as dificuldades na estrada, o frio das montanhas, o povoado de San Juan do Rosário, Laguna Colorada, Uyuni e dirigir no meio do mar de sal, a história de Potosi. No caminho de retorno, a floresta, o calor intenso, mais lama nas estradas, e o povoado de Roboré. O Pantanal foi ontem e já sinto falta de colocar o pé na estrada novamente, conhecer novos lugares e gente diferente.

Finalmente a Ponte Hercílio Luz, Floripa, nossa casa!
Agora é preparar a próxima!

Pantanal Brasil!!!





Já que estamos por aqui não podemos perder a chance de conhecer um pouco do Pantanal, resolvemos ficar um dia para passear pela região. Descobrimos que existe uma tal de Estrada Parque e lá vamos nós. Ë uma estrada de terra, que vai cortando as fazendas e os rios da região, vimos jacarés, capivaras e muitos pássaros. Os rios estão cheios de peixes, mas é época de defeso e o pai fica sem essa pescaria, qualquer dia agente volta por aqui. Para conhecer o Pantanal são preciso alguns dias. No caminho, paramos em um cruzamento e encontramos um fazendeiro da região que nos dá a dica: "pela esquerda vc vai pegar muito atoleiro e ver muita coisa bonita passando por um monte de fazenda aí, pela direita é bonito também, mais 48 km e voce chega no asfalto pra voltar pra corumbá, não é tão divertido com esse teu carro aí". A tentação é grande, mas a Nave já teve o bastante, vamos pelo caminho da direita, mais tranquilo.

Corumbá, Brasil!!

A viagem até aqui foi muito boa, foi realmente uma aventura, conhecer todos estes lugares é indescritível. Nós passamos por todos os tipos de clima, relevo e vegetação em apenas 20 dias. Vimos gente diferente, culturas diferentes e línguas diferentes. Mas agora chegou a hora de voltar ao Brasil, e isso sempre é muito bom.

Acordamos cedo em roboré não sabemos como vai ser o caminho até Corumbá sempre pode haver uma surpresa aqui na Bolívia. Seguimos em direção ao leste, a estrada é de barro, mas está seca e é relativamente movimentada, uns dois carros por hora mais ou menos.

Tudo tranquilo, apenas a chuva que vem lá longe nos deixa preocupados, chuva na bolívia é sinal de que a estrada pode virar um rio rapidinho. A chuva chega forte, eu estou meio distraido e a Nave dá uma derrapada, um pouquinho de controle e voltamos a estrada. Acho que foi a última lembraça de aventura que tivemos da Bolívia, dali a 2 horas chegamos a Corumbá.

Caminho de terra até Roboré

Saímos de Santa Cruz as sete, esperando fazer os 500 e poucos kilometros até Puerto Suarez em um dia, mal sabíamos nós o que viria pela frente.
A estrada começa tranquila, asfaltada, mais a frente perguntamos sobre um possível caminho, mais longo, mas melhor. A resposta de sempre "com este coche... tranquilo". Bom confiando nas pessoas seguimos pelo caminho mais curto.

Deixamos o asfalto, e a estrada de terra parece tranquila, o gps nos indica o mesmo caminho. Vamos cruzando fazendas e mais fazendas, alguns pequenos atoleiros, mas nada muito pesado. Aí chegamos a uma curva onde um carro está sendo rebocado, passamos por eles, e ao fim da curva, um lago toma conta da estrada. Na duvida voltamos e pedimos informação, um brasileiro que vive ali na região diz que é razo, e o carro deles só morreu pq ele estava muito rápido. O problema é que não vemos aonde a estrada continua, apenas um lago e floresta. Bom, vamos lá só não podemos deixar o carro morrer, porque o motor de arranque pode nao funcionar denovo. A idéia é que eu va a pé na frente do carro checando a profundida. Mas antes que comecemos a travessia aparece um trator, guiando um caminhão pela água. Eles se oferecem pra guiar-nos e protamente aceitamos. Lentamente passamos este e um outro rio mais a frente, tudo tranquilo.

Chegamos então a San Jose de Chiquitos, uma cidadezinha pequena, mas bem movimentada com os caminhões que cruzam a região, paramos para almoçar. Na hora de seguir viagem, novamente a nave pára, checamos o óleo e está vazando muito. Descobrimos que o vazamento é no sensor da pressão do óleo, uma apertadinha, um pouquinho mais de óleo pro motor e vamos embora. Nos informaram que há uma cidade chamada Roboré a 150 km daqui, o que no cálculo boliviano dá 3 horas de viagem, por aqui você tem que calcular sempre 2 ou 3 horas para cada 100 km, dificilmente dá pra fazer mais rápido que isso.

O começo é uma estrada de concreto, das mais modernas, mas logo a estrada é interrompida e voltamos ao tradicional barro enlemeado. Essa tal estrada nova está quase pronta, mas faltam algumas pontes, então a gente fica alternando entre o concreto e o barro o tempo todo, não dá pra ir muito rápido.

Chegamos a Roboré já quase a noite, encontramos uma cidade pequena, com uma pracinha central, e cercada por cachoeiras. Paramos em um hotelzinho e vamos jantar na praça, um tal de pico mucho, a versão local para o pique-macho, prato tradicional aqui na bolívia.

Amanhã, Brasil!!!

Cochabamba - Santa Cruz

Acordamos cedo, esperamos não chegar muito tarde em Santa Cruz, nos disseram que o caminho até lá é asfaltado, mas pode haver alguma ponte caída. A Nave pega de primeira, não precisou nem de um tranquinho, ontem o pai e o rodrigo checaram óleo e água e aparentemene tudo bem. Seguimos um track que eu tinha marcado no GPS a estrada era boa, mas de repente a Nave começa a retear, o motor perde potência. Paramos e descobrimos que tá vazando muito óleo, a luz de advertência acende. Resolvemos voltar pra buscar uma oficina, dali a uns 2 km um mecânico de fundo de quintal, dá uma olhada, passeia um pouco com o carro e nada. Para todos os efeitos resolvo drenar o filtro do óleo. O carro volta a funcionar perfeitamente, e descobrimos que o filtro do óleo está meio frouxo, uma apertadinha e estamos prontos pra seguir.

O mecânico nos informa que existe uma nova estrada até Santa Cruz, aparentemente melhor e mais curta. Vamos perguntando aqui e ali, até que chegamos a esta estrada. Aqui começa a floresta Boliviana, montanhas cobertas de verde, cheias de cachoeiras que as vezes atravessam a estrada. As pontes que teriam caído já devem ter sido arrumadas, na verdade pelos barrancos que vemos, esta estrada deve ser refeita toda vez que chove. O visual é muito bonito e bem diferente do que vimos até agora. ( não temos fotos deste trecho, não sei pq, depois eu pego umas imagens da HDV)

Chegamos em Santa Cruz sem maiores problemas, a cidade é uma das mais ricas da Bolívia impressiona a diferença entre as cidades do sul e aqui. Tem até uma loja da Hummer cheia de H2 zerinho.

Achamos um hotel e buscamos por mais informações para chegar ao Brasil. Descobrimos que a estrada não está tão mal assim, e a frase que ouvimos constantemente nesta viagem se repete "com este auto usted pode seguir tranquilo". Aparentemente as pessoas acham a Nave indestrutivel e qualquer estrada é boa pra ela. Então fica decidido que iremos pela estrada até o Brasil, o trem fica pra próxima.

Cochabamba vista do hotel


Bom, aqui as coisas começaram a complicar, desde de Potosi me sentia meio mareado, e finalmente me entreguei, cai na cama e no banheiro. Não tenho certeza do que foi, mas acho que não foi da comida, o pai e o Rodrigo estão bem e temos comido as mesmas coisas. Deve ser altitude mesmo, o efeito de Potosi meio atrasado.

Pela manhã resolvi tentar uma saida, fomos fazer compras aqui no camelô local, ali tem de tudo, principalmente comida. A carne fica exposta ao ar livre, sem refrigeração e eu acho que os bolivianos devem nascer com alguma proteção divina pois higiene não é o forte por aqui.

Feitas as compras voltamos para o hotel e fiquei por ali mesmo, ao lado do banheiro, o pai e o rodrigo foram ao tal do Cristo com cabelo ao vento, coisa pra turista ver. Amanhã espero estar melhor pra seguirmos até Santa Cruz.

Mudança de Planos

Antes de sair de Potosi precisávamos decidir o futuro da viagem. Ir até La Paz, visitar o Titikaka, Copacabana e fazer uns passeios pela região, depois Cochabamba, Santa Cruz, Brasil. Ou ir direto para Cochabamba, Santa Cruz e Brasil. Acontece que a primeira opção só vale a pena se tivermos tempo para isso, mas já é dia 20, todo o trajeto de santa cruz a corumbá é uma incógnita. Além disso a chuva continua caindo na Bolívia e as estradas não ajudam muito. Decidimos pela segunda opção. La Paz fica pra próxima!

Acordamos as 6 da manha, arrumamos tudo e saímos sem café da manha, esperamos encontrar alguma parada pelo caminho. Com tanta chuva não dá pra apreciar muito a paisagem, mas perece bonito o caminho até Oruro. A estrada é asfaltada e bem sinalizada, assusta um pouco algumas pedras que rolam do barranco e podem arranhar a Nave, mas tudo tranquilo, já passamos por piores. Neve, chuva e graniso vão se alternando no caminho. Paramos em Chalapata para tomar o café da manhã e pela primeira vez a Nave nos dá um susto. Acho que o motor da arranque morreu, então temos que fazer o carro pegar no tranco, ainda bem que estava parao em um descida. Daí pra frente é sempre uma espectativa ver se ela vai pegar ou não.

Chegamos em Cochabamba umas 4 horas e fomos almoçar. A cidade é a segunda maior da Bolívia, meio conturbada, transito pesado e onde se pode ver pobres e ricos bolivianos. Pegamos um hotel e resolvemos ficar aqui mais um dia pra conhecer a cidade.

As Minas de Potosi

Ontem a noite, saimos pra jantar e descobrimos um restaurante muito bom, meio caro para o padrao boliviano, mas aparentemente mais saudável. Hoje acordamos com uma mulher batendo em nossa porta. Ela era guia turistica e queria saber se queríamos ir às minas. Meio sonolente perguntei quanto era e falei que iríamos, 40 pesos por pessoa. A van que levou a gente para subir a montanha nao era das mais confiáveis, mas tudo bem. Paramos em um outro hotel, colocamos botas, capacete e macacão e seguimos. A subida até as minas é meio tensa, um penhasco de mil metros, lama e nenhum espaço pra correr.

É meio estranho entrar nas minas com os caras trabalhando lá. Os mineiros trabalham sob o efeito de muita folha de coca, o que eles chamam de cocalipsia, só entram na mina depois de uma hora mascando punhados de folha. Também bebem alcool quase puro, na garrafinha tá escrito "álcool 98% POTÁVEL". Entre eles garotos de 15 anos e até menores trabalham até 8 horas por dia.

Entramos na mina, escura (óbvio), molhada e abafada, quem tem claustrofobia não deve tentar isso não. A montanha é cheia de entradas e bifurcações, andar por aqui sem um guia é quase impossível. Dizem que no começo da exploraçao haviam veios enormes de prata, e os índios eram orbigados pelos espanhois a extração sob um regime de semi-escravidão. Tudo saia daqui de Potosi e era levado até Buenos Aires, de onde partia para a europa. Potosi chegou a ser a cidade mais importante do mundo lá por 1600. Hoje os mineiros trabalham muito para extrair o que resta de prata, os veios são muito menores e eles chegam a reativar tuneis de 1600 para buscar o que os antigos deixaram para trás.


Nas minas conhecemos tambem El Tio um deus criado pelos espanhois para amedrontar os nativos, e fazer com que eles trabalhassem mais. Hoje ele ainda é cultuado como o Deus do subsolo, recebe oferendas e rituais para que os mineiros possam encontrar mais prata.

É um passeio interessante, mas fica a sensação estranha de que vc está fazendo turismo as custas do sofrimento desta gente que trabalha em condições desumanas. Mesmo que parte do dinheiro dos tours seja para os sindicatos de mineiros.

Saimos dali e fomos a Casa da Moeda, legal conhecer a historia de um lugar que deve ter sido muito movimentado em certo tempo na história. Hoje restam apenas as lembranças e estas construções e muita pobreza depois de tanta exploração.

domingo, janeiro 22, 2006

Atrasado

Seguinte pessoal, nos ultimos dias o acesso a internet foi meio escasso, então to guardando tudo pra quando chegar em floripa daqui a tres dias, mais ou menos. De qualquer maneiro o que aconteceu até agora foi o seguinte: um dia em potosi visitando as minas (coisa de doido), ida até cochabamba (estrada boa e com neve), um dia de molho em cochabamba, seguimos até santa cruz, estradinha legal com alguns buracos, saimos para corumba mas paramos em robore, agora estamos em corumba e saimos daqui terca com destino floripa. Até agora tudo beleza, bastante lama, alguns rios atravessados, a Nave continua sofrendo. Desistimos de LaPaz porque nao haveria tempo bastante pra passear por lá. Por enquanto é só um abraço. Em dois ou tres dias eu jogo as história completa e mais umas fotinhos.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Uyuni Potosi


Hoje saímos as 8 horas de Uyuni esperando evitar a chuva que tem caído todo dia por aqui. A estrada estava boa, para o padrao boliviano apenas alguns sinais da chuva do dia anterior. Passamos por Pulacayo uma mina encrustada na montanha, a idéia era fazer uma visita a mina que, é uma das mais antigas da região, mas chegamos muito cedo e estava fechada ainda. Apenas um guardinha na guarita a beira da estrada fazia o controle dos veículos que passavam, nos cobrou 10 pesos a título de manutenção da estrada. Acho que eles deveriam cobrar mais porque dez pesos não está sendo suficiente para arrumar as estradas por aqui.
Continuamos passando por montanhas e vales, secos, com algumas casas abandonadas. As vezes atravessamos o que mais tarde, com as chuvas, seriam rios turbulentos. O caminho é tranquilo e paramos para fazer algumas fotos. Até que lá pelo meio dia avistamos a chuva se formando na direção de Potosi. COmo não conhecemos a estrada não sabemos se novos rios aparecerão pela nossa frente. A chuva começa e estamos no meio de um canyon, a água se tranforma em gelo, e pela segunda vez passamos pela neve (na verdade um granizinho mais ou menos). Mas nada que dificultasse o nosso caminho.

Chegando em Potosi, mais um guardinha nos cobra o tal pedágio e mais uma taxa de transito que ao todo nos custou 20 pesos.
Potosi foi meio chocante pra mim, não esperava voltar a realidade do trânsito e da agitação da vida de cidade grande tão cedo. Na verdade Potosi nem é tão grande assim, mas parece extremamente caótica. Paramos em um hotel meia boca, pior que o do Max em San Juan, e mais caro. Mas tudo bem, não pretendemos ficar aqui muito tempo.


Procurar um restaurante descente aqui não é muito fácil, entramos em um que exibia em sua placa 5 estrelas douradas. Vamos dizer que as estrelas podem representar as décadas de vida do restaurante, mas a comida...
O pai e o Rodrigo foram a um museu, eu dispensei, estou com saudades dos pueblos e da natureza, não quero ver cidade grande ainda. Bom de qualquer maneira, amanhã vamos tentar ver a tal casa de la moneda, e talvez visitar uma mina. Se tivermos tempo saímos amanhã mesmo em direção o Oruro, e depois La Paz.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Uyuni

Dia de descanso para nós e, para o carrinho, tratamento especial. Nesta cidade estão os melhores lavadores de carro que já vi, afinal tirar o sal das máquinas é um trabalho meticuloso. A Nave agora parece bem, as luzes de advertência continuam acendendo eventualmente, mas checamos tudo e provavelmente é algum mal contato. Fomos até um tal palácio de sal, mas estava fechado. Amanhã seguimos até Potosi, depois Lapaz e finalmente caminho de casa.Estou com saudade de San Juan, foi um lugar marcante nesta viagem. Um pueblo tranquilo, sem tv, sem muitos carros, apenas um telefone e com gente amiga.

domingo, janeiro 15, 2006

San Juan até Uyuni caminho incerto

Em San Juan tem telefone, um museu com algumas mumias, e muitas lhamas. É uma cidade simpática, mas passamos o dia cuidando da Nave, troca de filtro de ar e limpeza geral, checar o óleo, abastecer. A melhor decisão que tive foi colocar o tanque extra de combustível, foi uma preocupação a menos em todo o caminho. a pior foi não colocar o snorkel.
A chuva continuou e agora chegava a hora de decidir qual caminho tomar, contornar o salar e correr o risco de ficar atolado, ou seguir os Toyota Land Cruiser dos bolivianos pelo salar por 5horas com 20 centimetros de água salgada e correr o risco do sal parar o motor da Nave. Ouvimos várias opiniões, não sairíamos sem considerar tudo. Ficamos mais uma noite esperando que a chuva passasse. Isso não aconteceu e eu passei a noite em claro ouvindo a chuva, preocupado, culpado por ter trazido meu pai para uma loucura destas, talvez fosse melhor ter vindo sozinho. Eu tenho que decidir, e se alguma coisa der errado a culpa vai ser minha. Acho que nunca passei por tanta pressão assim.
Acordei, digo, levantei as 6 da manha, fui pra rua, a chuva diminuiu, Max e um casal de alemães, que havia ficado preso no salar com um caminhão 4x4 de 8 toneladas, discutiam qual a melhor saída dali. Max afirmava que o salar era a melhor saída, um outro boliviano com um Mistusbishi 4x4, dizia que nunca mais passaria pelo salar com chuva era muito perigoso. Nós e os alemães ficamos no meio da discusão sem saber o que fazer. As 7 da manha, decidimos ir pelo salar, tinhamos que preparar tudo muito rápido para seguir os guias que saíriam em 1 hora. Protegemos o motor com uma lona para que não entrasse sal. Tomamos café e um morador da cidade veio pedir carona. Ele era guia, infelizmente não lembramos o nome dele, mas foi um anjo que nos deu mais tranquilidade para enfrentar o salar até Uyuni.


Tudo pronto, eu entro na Nave e falo comigo mesmo: - Vamos lá, a gente vai conseguir! Procuro parecer confiante, mesmo que esteja morrendo de medo do que vem pela frente. Seguimos, até entrarno salar temos que passar por um trecho de terra e logo no primeiro quilômetro vemos um ônibus que ficou atolado durante a noite quando a fazia o mesmo caminho que nós. Os primeiros atoleiros vão aparecendo, e a cada um tento me concentrar mais na estrada. Ao mesmo tempo, checo as luzes no painel, busco a marcha correta, não posso acelerar muito nem pouco, procuro por um lugar mais sólido, tento evitar as pedras. Respirar agora é o menos importante. O sol começa a aparecer, mas as chuvas da noite anterior foram fortes e tudo está enxarcado. Os primeiros 4x4 bolivianos já estavam muito a frente eu tenho que alcançá-los, mas o caminho é difícil a velocidade não passa de 30km por hora. Após uma hora e meia de lama, avistamos a entrada para o salar na ponta da península, e mais a frente os Land Cruiser com turistas se preparando para entrar na água. Agora ao menos podemos segui-los dentro do salar, onde não existe estrada.

O nosso guia nos ajuda a arrumar o carro, alguns galhos servem para protejer o radiador e a lona proteje o motor, o pai arrumou uma maneira de protejer um pouco a entrada de ar. Os motoristas bolivianos conversam sobre qual melhor caminho, como se houvesse estradas demarcadas naquele branco absurdo. Agora é pra valer, tomei folego como se não fosse mais respirar pelos proximos 180 km. Os Land Cruiser começam a submergir, fico olhando e esperando pela minha vez. Vejo os carros afundando cada um dos 20 centimetros de profundida no salar, pensando quanta água a Nave teria que enfrentar. A minha vez chega, nosso guia continua falando palavras de incentivo e garantindo que tudo vai terminar bem. A Nave entra na água com tração reduzida e diferencial bloqueado, segunda marcha e rotação acima de 2mil rpm a 15km por hora. Agora não há volta, a água salgada espirrada já cobre a Nave. Para mim os primeiros minutos na água parecem horas.

As luzes de advertencia estão acesas, espero que seja defeito no painel apenas. Busco a trilha deixada pelos Toyota que seguem dez metros a minha frente. Tento seguir exatamente cada marca de pneu que se pode ver através da água transparente com medo de sair da trilha e cair em algum burado. Trinta minutos depois, o carro a frente pára, fico na dúvida se é algum problema com o carro ou se a água está muito alta. Nada disso, apenas uma parada para que os turistas tirassem fotos. Por um segundo desconfiei, mas aí me dei conta que estávamos no meio do salar, um lugar inacreditável. O sol estava forte. A sensação é de que estavamos no meio do mar, andando sobre a água. Tiramos os sapatos, saímos do carro, tiramos fotos e rimos dos turistas argentinos.

Voltamos ao carro, o caminho ainda era longo, iríamos até a ilha dos Pescadores e depois para Uyuni, é o caminho mais longo, mas pelo menos estaríamos na rota turística. Manter o carro a 20km por hora durante 2 horas não é fácil, mas depois de um tempo me acostumei. Apenas o parabrisa me incomodava com o sal que se acumulava, mas Uma vantagem da Defender é poder dirigir com a cabeça pra fora sem muita dificuldade.

Chegamos a Ilha do Pescador, um monte no meio do salar, cheio de cactus. Almoçamos e depois de uma hora de descanso voltamos a estrada, ou melhor, ao salar. Agora são mais três horas até Cochana perto de Uyuni, um dos poucos pontos do salar onde se pode sair tranquilamente. No salar existem portos onde se pode passar a faixa de terra fofa que o contorna, tentar passar por qualquer outro lugar é muito perigoso.
Da ilha não se pode ver terra firme do outro lado, apenas algumas outras ilhas dentro do salar, mas os guias sabem a direção a tomar. Agora já estamos mais tranquilos, vemos dezenas de carros cruzando o salar, é uma visão maluca, parece que estamos velejando no meio do mar. Uma hora e meia depois vemos o "continente" e uma montanha serve como guia para chegarmos ao porto de Cochana.

Ao mesmo tempo vemos nuvens pesadas se formando, o tensão começa a voltar. Se a chuva for muito forte nas motanhas a água corre toda para o salar aumentando a profundidade. Acelero um pouco, mas não quero deixar os outos carros para trás, eles são nossa segurança. Duas horas e meia depois, finalmente vemos o hotel de sal, já estamos perto de terra firme, paramos rapidamente, com o olho nas nuvens que já começaram a despejar água nas montanhas. Mais meia hora de salar e chegamos em terra, uma estrada de rípio meio enlameada nos leva a Uyuni. Finalmente respiro normalmente! A Nave voou, ou melhor flutuou pelo salar e chegamos sãos e salvos a Uyuni.

Laguna Colorada para San Juan chuva e travessia de rios - "A Nave Voou".




As oito estavamos prontos e novamente seguimos os 4x4 dos bolivianos, mas fomos parando pelo caminho, tirando fotos e gravando. Passamos pela tal árvore de pedra (meio caída por sinal) e uma das guias bolivianas perguntou se queríamos seguí-los porque o caminho seria difícil dali pra frente. Bom, falámos que sim e fomos atrás do Toyota Land Cruiser 1980, aparentemente o único carro recomendado para o transporte de turistas aqui na região. Passamos por mais umas lagoas, mais alguns flamingos e algumas pedras, visual bonito, mas batido por aqui. Ao meio dia paramos na Lagoa Hedionda (Stinking Lake, em inglês) onde os 4x4 bolivianos se juntavam para o almoço, como não estávamos com fome seguimos sem os guias, nosso primeiro erro. "Es mui peligroso alla, mejor esperarem" dissa a guia boliviana. "Encontramos vocês mais ali a frente dissemos nós". O caminho que até aqui era tranquilo começou a se complicar, caminhos de pedra que seguim pra todos os lados apareciam a todo momento. Vimos um dos Toyota Land Cruiser e resolvemos seguí-lo.

Mais a frente nosso segundo erro, estávamos em uma estrada razoavelmente boa e o carro que seguíamos entrou em uma Lagoa, decidi continuar na estrada. O GPS sem um mapa detalhado não adianta muito e fomos seguindo um mapa da Bolivia que compramos. A estrada era bom, a direção do GPs não parecia a mesma que o mapa indicava, mas a lógica era: "se esta é uma boa estrada deve levar a algum lugar bom", ledo engano. Chegamos a fronteira com o Chile, fim da estrada em um terminal de trem de cargas. Bom, nada terrível até aí, pedimos informação e nos disseram para seguir a linha do trem até Chaguana e de lá até San Juan, beleza. Acontece que a linha do trem atravessa um pequeno salar com muita lama. Passando pelos atoleiros e sem ter muita certeza de onde estávamos, derepente surge uma construção ao lado dos trilhos, paramos para pedir mais informações, da casinha saem correndo três adolescentes com uniformes desbotados. Nesse momento pensamos em tudo, bando de guerrilheiro, seita religiosa, assaltantes de trem... Na verdade eram militares bolivianos num posto de controle de fronteira. "Donde van, tiene que registrarse, tiene que registrarse!", ficamos meio assustados e logo apelamos para o famoso "somos brasileiros" como se isso resolvesse tudo, na verdade resolveu. Os caras viram as camêras e assumiram que erámos periodistas passeando pela bolívia.


Seguímos caminho em meio ao salar, mas os atoleiros começaram a ficar mais pesados, e vimos ao longe o que parecia ser uma estrada na beira da motanha. Tração ligada, bloqueio do diferencial, e reduzida, a Nave começa a criar uma nova estrada pelo meio do salar, nada a segura. Alcançamos a tal e estrada apenas com uma luz de advertência acesa no painel, "aquecimento da transmissao". Paramos um pouco pra esfriar a Nave e finalmente apareceu um ser vivo, uma motinho 350 de 1900 aparentemente, nela um senhor que resolvemos chamar de senhor Miagui, ou Yoda se preferirem. Ele para a moto com certa dificuldade e nos informa que estamos no caminho certo para San Juan, era só seguir aquela estrada e virar a direita mais a frente. "Solo no entren en el salar esta muy dificil" Beleza, agora que tu avisa Miagui!
Mais tranqüilos seguimos, o senhor Miagui desaparece na nossa frente. Mas a tal saída pela direita não aparece, chegamos em um pueblo pedimos mais informações e um garoto reafirma a indicação do senhor miagui. Maravilha! Mais 40 minutos e estariamos em San Juan. Chegamos a beira do salar, a esquerda lá longe vemos uma cidade a direita só lama. hummm!! Terceiro erro, não acreditar no Senhor Miagui e virar a esquerda. Depois de uma hora beirando o salar por uma estrada cheia de lama, chegamos... em San Pedro.

Eram quatro horas e decidimos tentar San Juan que estava mais perto do caminho ao salar. Pelas informações mais recentes eram apenas 45 minutos, voltando por onde viemos. Tá bom, vamos lá! No horizonte começa a se formar o que seria nosso maior problema, nuvens pesadas começam a cobrir as montanhas onde estaria San Juan. Mas tudo certo,"são só 45 minutos, a chuva não pode piorar muito neste tempo", mais um erro, por aqui a chuva pode piorar tudo muito rapidamente. A estrada começa a parecer mais enlameada, mas a Nave segue com tranquilidade. No caminho, uma picape 1950 (acho que todos os carros por aqui são de 1950 mais ou menos ) toda remendada, esta atolada com três bolivianos que serviriam muito bem para um filme sobre prevenção bucalZ: "Nao masque folha de coca e escove seus dentes ou você vai ficar assim!"

Tá a chuva está ali se aproximando, mas vamos ajudá-los, afinal "a gente semu tudo gente boa". Vinte minutos depois... pé na estrada porque a chuva ali já parece uma tempestade. A lama começa a aumentar, pequenos rios começam a cortar a estrada a cor do céu já está assustando. A Nave volta a trabalhar, tração reduzida, bloqueio do diferencial, e vamo embora. Primeiro rio beleza, segundo a correnteza está maior, mas não podemos parar. Vai Nave! E ela vai, terceiro rio e a àgua cobre a Nave, a tomada de ar fica encharcada, e por um momento Ela rateia, mas com fé passamos mais um, chegamos ao alto de um morro, onde estamos mais seguros, mas a visão a nossa frente assusta mais ainda. Toda a estrada parece um rio que só aumenta com a chuva. E nem sinal de San Juan. Lá fora neve começa a se formar. Resolvemos para num lugar mais alto e esperar a chuva parar.

A chuva diminu e fizemos uma segunda tentativa. A estrada esta cortada, mas o rio diminuiu. A Nave acelera e força passagem, inclinada a uns 30 graus ela pára e não consegue seguir. Voltamos para o ponto mais alto, mais meia hora e a chuva diminui. Terceira tentativa, agora temos que passar, se a chuva voltar vamos ter que dormir ali no meio do nada com um frio desgraçada.
Pegamos a pá e buscamos um novo caminho contornando o bloqueio. Passamos! Chegamos a um outro morro, e depois da curva... Puta que o pariu!! Agora toda a estrada é um rio. A Nave está exausta, a luz da transmissao e da temperatura do óleo estão acesas. "Vamos lá, temos que continuar, não podemos ficar aqui parados". Nos primeiros metros, uma surpresa uma marca de pneu de moto, recente, com certeza feita depois da chuva. "Deve ser o senhor Miagui, vamos seguí-la." A marca da moto parece levar para o nada, mas pelo menos é melhor que o rio (a estrada). A Nave segue firme, quicando pra todo lado criando uma nova estrada. As marcas da moto desaparecem, voltamos para a estrada e devagar atravessamos todos os rios, mas nada de San Juan.

A chuva começa a aumentar e o medo toma conta de nós novamente. Então, lá no meio do nada, aparece uma luzinha fraca se aproximando. Seguimos em direção a luz, "É uma moto, parece o Senhor Miagui. Está parando... - Ola como esta? - Senhor por favor donde está San Juan?" O senhor é Maximo, dono de uma pousada em San Juan, e nos aponta a cidade que agora com um pouco menos de nuvens começa a aparecer. Vinte minutos depois estávamos em um quarto enorme, com chuveiro e água quente e o jantar é uma sopa deliciosa feita pela senhora Izidria, mulher de Máximo. Finalmente descanso, pelo menos até amanhã.

San Pedro de Atacama para Laguna Colorada




Acordamos umas 6 horas e saímos em direção a aduana do chile, depois de pegar uma pequena fila e providenciar toda a papelada de saída, seguimos até a fronteira com a bolívia. A simplicidade do país já começa pela casinha em que um guarda controla o trânsito de turistas pela fronteira. Continuando, chegamos a Laguna Verde, lugar muito bonito e onde planejávamos dormir, mas era muito cedo e resolvemos continuar, deixamos pra outro dia a subida ao Likancabur. Resolvemos seguir um dos diversos 4x4 que faziam o transporte de turistas por estes lados. Boa idéia que deveríamos ter mantido até o final. Passamos por uma região cheia de montanhas e com formações rochosas malucas.


Chegamos a umas lagoinhas com água termal, mas paramos apenas para almoçar não tomamos banho no piscinão de ramos boliviano. Mais a frente vimos alguns geisers ao longe e paramos em uma lagoa de enxofre, ou coisa parecida, algo saído de filme de alienígena, um monte de lama cinzenta borbulhante com um cheiro horrível.

Umas duas horas passamos pela aduana boliviana, que aqui não fica junto a migração como nos outros países, esta fica em uma mina de extração de acído sulfurico ( ou coisa assim ) a 5000 metros de altitude. Os encanamentos, o deserto em volta, o vapor e as montanhas lembraram madmax. Demos sorte chegamos antes do almoço do senhor da aduana, que foi muito prestativo e ágil, acho que ele estava como fome. Ali encontramos outros brasileiros que vinham de Uyuni e nos deram dicas sobre o caminho, não seguimos nenhuma delas. Mais estrada de terra e chegamos a Laguna Colorada as quatro horas, um lugar muito louco onde a água tem várias cores, desde vermelho das algas até o verde, e como todas as lagoas por aqui, muitos flamingos. Resolvemos procurar um pouso, vimos um lugar meio distante que parecia ser uma pousada, na verdade era, mas muito estranha e aparentemente abandonada, o Rodrigo se aproximou dos nativos pra fazer contato, mas aparentemente a comunicação não rolou, saímos dali rapidamente e mais a frente encontramos uma casinha com vários 4x4 de turistas e paramos ali mesmo. Um quarto comunitário com banheiro comunitário (unisex) , sem chuveiro. Bom tudo bem, se tinha tanta gente parando ali era porque não havia nada melhor na região.



Conhecemos David, Abel e Cristina três crianças que vivem no meio do nada e ficaram muito curiosas com a Nave e com nossas câmeras deixamos para eles umas camisetas de floripa como regalo. Descolamos uma sobra da janta dos turistas, já que a janta que a dona da pousada nos ofereceu foi prontamente recusada - sopa de carne de lhama "preta" muito estranha. Jantados, ficamos conversando com o pessoal no corredor, brasileiros, suecos e argentinos. Como nínguem trouxe violão tão pouco sabia cantar fomos dormir cedo.